Quero começar este post com uma pergunta, para exemplificar a difícil hermética da conversa: Em que nível você está?
A sociedade atual tem uma difícil questão a respeito desta pergunta boba e básica que deveria ser a primeira preocupação de todo o ser humano. Isso porque nós, como pessoas acostumadas ao ideal cristão católico, temos em nossa mente que devemos ser “humildes” para sermos boas pessoas o que nos obriga a tomar desculpas esfarrapadas ao longo de nosso trato com outros seres humanos, com a desculpa de que o Ego é algo pernicioso e que te levará a ruína do inferno. Isso deixa muito claro a difícil hermética da conversa.
Eu sempre me questionei a respeito disso e ontem, assistindo a um vídeo do filósofo Mario Sérgio Cortella, acabei por encontrar uma informação que me fez refletir ainda mais a respeito disso. Ele disse que o Arrogante, aquele que seria contrário do humilde, é quem acha que há duas formas de se fazer uma coisa: a sua e a errada.
Geralmente, na internet, as pessoas tem uma impressão de arrogância da minha parte. Acham que eu sou assim por algum motivo que, nestes mais de dez anos de produção de conteúdo (foram dez anos somente com o site ArteFolk e produção de textos, mais três com o canal), sempre o que me disseram pra justificar esta postura tinha a ver com a minha forma direta de falar.
Fazendo uma autoanálise
destes anos todos de produção de conteúdo, e mesmo de hoje em dia, eu consigo perceber, de fato, que realmente sustento uma forma direta de falar. Prefiro falar o que penso de um jeito simples, claro e objetivo, a ficar dando voltas e mais voltas em torno de um conteúdo específico e isso tem um certo valor estratégico: quanto maiores são as frases, mais cheias de voltas, mais chances nosso interlocutor tem de estabelecer critérios próprios de compreensão e entender coisas que você não quis dizer com aquela frase e o que torna difícil a hermética da conversa. Dia desses tive um exemplo claro de uma outra pessoa que compreendeu a vida dele da mesma forma: em uma conversa de bar, ao ser questionado se ele ainda tinha fome, a resposta veio com algo cheio de justificativas e pormenores. No meio do caminho, ele mesmo se olhou, parou o diálogo e terminou com um rápido “respondendo a pergunta; não”.
Automaticamente eu comecei a rir porque tinha identificado nele a justa questão que vinha me fazendo e ele deu uma das respostas mais brilhantes que eu podia ter ouvido: “percebi que não tenho que ser prolixo pra fazer as pessoas me entenderem, isso evita um monte de coisas”, e foi isso que eu disse logo acima.
Na verdade, esta postura é sintomática.
Nós, dentro de nossa sociedade, somos acostumados a pensar menos. O ditado “A ignorância é uma bênção” vem exatamente daí e exprime, realmente, uma realidade; obviamente não estou falando que todo ignorante é feliz, nem que todo infeliz é inteligente, mas a ignorância nos leva, por exemplo, a não levarmos as mazelas de nossas próprias condições em conta quando fazemos o churrasco no final de semana, o mesmo que vai consumir grande parte dos meus recursos financeiros e impedir que eu compre o que realmente preciso, em troca de alguns minutos de felicidade falsa, dada pelo ato de chamar pessoas a se reunirem em volta de um fogo que queima uma carne.
Você acha isso um absurdo, mas já se questionou a respeito das coisas que você faz? Usar a difícil hermética da conversa é exatamente criar esse exercício: Por que você comemora o dia das mães, sendo que sua mãe está aí (julgando que esteja), viva e disponível, durante os 364 outros dias do ano? Por que você aceita pagar mais caro em uma barra de chocolate no formato de um ovo, só porque alguém disse que você precisa dá-la de presente em um determinado dia do ano? Por que você aceita se reunir com seus familiares e manter as aparecias em um outro dia do ano?
Sua vida é, na verdade e em grande parte, fruto destas amarras sociais criadas, em grande parte, por um ideal religioso que, muitas vezes, não é o seu. Sendo ou não religioso, é bem provável que ele não seja o seu. O pior é que isso é tão forte em você que, se você não comprar o presente de natal de alguém que você gosta muito, provavelmente quem vai sofrer com isso será você.
Agora, onde este prólogo todo quer chegar?
Existem, basicamente, dois motivos para uma discussão existir, claro, quando estamos falando de uma conversa hermética: o primeiro deles é a busca por uma verdade ou uma informação melhor lapidada, no sentido de estar mais próxima de uma verdade almejada, supostamente conhecida por todos os que “batalham” nesta discussão; ou você pode discutir para provar que está certo. Ambos os casos são válidos, embora hoje em dia exista uma separação muito clara nesta situação, quem usa o primeiro e quem usa o segundo modo. Geralmente, quem usa o segundo modo, não sabe o que está falando e é aqui que adentramos, finalmente, no assunto.
Várias estratégias podem ser usadas para se “vencer” uma discussão e “provar” a audiência a sua verdade, ou seja, provar que seu modo é o único correto. Quem estuda um pouco a arte da retórica, aprende algumas destas estratégias, conhecidas correntemente como “falácias”, para conseguir identificá-las e fugir delas. Isso é basal para quem precisa, por exemplo, realizar um trabalho de conclusão de curso em uma faculdade séria; uma das coisas que os membros avaliadores de uma banca procuram, é exatamente o uso de falácias.
Falácia é, então, uma forma trapaceira de se “vencer” uma discussão. Geralmente, a falácia funciona desviando o olhar de todos do que realmente importa na discussão, que são os argumentos e/ou dados expostos, levando a audiência ou o “adversário” a se confundir, comprando a atenção dos espectadores e dando a si mesmo, a preferência do público, por assim dizer.
Uma das falácias mais infantis e, por isso mesmo, uma das mais usadas, é a falácia do Ad Hominem, que é infantil por nem requerer uma certa acurácia do utilizador para jogar, como num tabuleiro de xadrez, as peças da conversa nos lugares corretos, ela simplesmente deixa de falar do argumento e passa a falar sobre o argumentador. É como quando alguém quer desmerecer um argumento perguntando “quem é você na fila do pão?”, ou usando sua idade para dizer que você está errado. Veja bem; a idade não tem nenhuma relevância no uso de um argumento, pessoas novas podem ter ideias geniais e, na verdade, no tempo em que nós estamos, onde a informação precisa ser administrada de uma outra forma em nossos cérebros pela velocidade com que ela é adquirida, eu poderia chutar que é até mais provável que as grandes ideias venham de mentes mais jovens, que já nasceram adaptadas a esse novo paradigma. Neste caso em específico, nós podemos evocar, de alguma forma, aquilo que falamos em nosso prólogo e afirmar que a manutenção de uma “tradição”, ou seja, afirmar que algo é bom só porque é antigo, é uma forma de arrogância, a partir do momento em que você não aceita a mudança e aceita o jeito que você aprendeu que é certo (claro, nem toda informação antiga está errada, o que estou afirmando é que é preciso ver a informação pela informação, não pela idade).
Acontece que, com o treinamento e, principalmente, com a experiencia em “campo” e aplicação da hermética na conversa, você começa a ficar imune a certas situações falaciosas como, por exemplo, o próprio Ad Hominen e, quando isso acontece, ao mesmo tempo em que fica muito chato participar de discussões no sistema “provar meu ponto”, fica muito divertido ver como seu adversário de conversa se debate como um peixe fora d’água tentando de desestabilizar com ofensas enquanto você, simplesmente, não dá a mínima. Mais divertido ainda fica, quando você percebe que, realmente, nenhuma ofensa te abala; se for mentira justamente por ser mentira, se for verdade, porque é algo que você precisa melhorar em você e o reconhecimento é o primeiro passo.
Hermeticamente falando
é a Lei do Mentalismo vem nos falar exatamente sobre isso: O Todo é Mente, o Universo é Mental. Muitas pessoas se apegam a este axioma com a ideia da defesa de uma divindade nível deus, ou seja, imaginam que por conta do Todo ser mental, quer dizer que estamos na mente de alguém que pensa em nós e, portanto, estamos em uma espécie de “consciência divina”. Tudo bem em pensar assim, só que existe também a necessidade de assumir que este é um pensamento oriundo de uma origem cristã. Quando tiramos essa divindade da frente, entretanto, temos um mundo de possibilidades completamente novo e amplo, que vai nos dizer que: o mundo fora de você, fora de sua própria mente, é interpretado de acordo com o que sua mente interpreta, então O Todo é Mente, porque é sua mente que o capta, o Universo é mental, porque é sua mente quem dita como você se comportará com as informações com foram captadas. Eu me ofendo, então, se minha mente não for forte o suficiente para separar a tentativa da realização e, assim como você exercita um músculo com a repetição do exercício, você exercita a mente com a repetição da captação de informações.
Bom, dentro de toda esta situação, agora acho que posso repetir a pergunta a você: Em que nível você está agora?